quinta-feira, 12 de novembro de 2009

ainda a velha investigação genealógica

tudo sempre dependerá de como a luz incide nos meus olhos. um negócio como óculos bifocais aplicados à vida. ás vezes acerto longe, miro distâncias e tomo decisões corretas porém prematuras e erro justamente com as coisas que estão aqui ao lado, por vezes no próprio colo do presente. ando precisando me concentrar para sentir melhor as coisas, andar nas ruas e enxergar o que acontece, não perder uma hora inteira distraído no trajeto de um ônibus. lembrar de situações e coisas, agendar horários para pensar em pessoas queridas em quem não penso há tempos, parentes, gravar memórias que correm o risco de se apagar, ontem mesmo lembrei-me de um domingo no início dos anos 80, atravessando o calçamento da rua em que morava, os pés descalços, as pedras quentes chamuscando a sola dos pés, minha mãe me pegando no colo na porta da rua e me fazendo sentar na poltrona da sala por uma meia hora, para esfriar os pés antes de pisar no fresco linóleo vermelho encerado, brilhando, na sombra intensa da casa, perigo de estuporar, cuidados misturados com brutalidade e gentileza como só a minha raça é capaz, vick vaporub no peito para parar a chiadeira, peixe pescado no açude, os domingos duravam anos inteiros para passar. velhas muito festeiras, um gene recessivo de personalidade expansiva naquela casa, tocando o acordeon (onde foi parar?) nos braços corpulentos, manchas de senilidade. "tristeza não tá com nada no balaio", diziam e seguiam pro pátio pra tomar uma fresca.