sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

once on a high and windy hill

jennifer jones morreu. ontem, meu aniversário. ao telefone, meu pai não conseguia articular "feliz aniversário". a degeneração neurológica já afeta as cordas vocais. do meu lado, eu não conseguia articular "obrigado". de tanto chorar. quando eu era pequeno, vi com ele "suplício de uma saudade". love is a many splendored thing, dizem.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

dezembro

"so we beat on, boats against the current, borne back ceaselessly into the past".

já quis muito uma vida "gatsbyana". mas entre o gatsby e eu só há interesecção no irresistível movimento acrobático que nos faz pousar no meio do nosso passado após um duplo carpado encerrado com mesuras protocolares para a audiência.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

ainda a velha investigação genealógica

tudo sempre dependerá de como a luz incide nos meus olhos. um negócio como óculos bifocais aplicados à vida. ás vezes acerto longe, miro distâncias e tomo decisões corretas porém prematuras e erro justamente com as coisas que estão aqui ao lado, por vezes no próprio colo do presente. ando precisando me concentrar para sentir melhor as coisas, andar nas ruas e enxergar o que acontece, não perder uma hora inteira distraído no trajeto de um ônibus. lembrar de situações e coisas, agendar horários para pensar em pessoas queridas em quem não penso há tempos, parentes, gravar memórias que correm o risco de se apagar, ontem mesmo lembrei-me de um domingo no início dos anos 80, atravessando o calçamento da rua em que morava, os pés descalços, as pedras quentes chamuscando a sola dos pés, minha mãe me pegando no colo na porta da rua e me fazendo sentar na poltrona da sala por uma meia hora, para esfriar os pés antes de pisar no fresco linóleo vermelho encerado, brilhando, na sombra intensa da casa, perigo de estuporar, cuidados misturados com brutalidade e gentileza como só a minha raça é capaz, vick vaporub no peito para parar a chiadeira, peixe pescado no açude, os domingos duravam anos inteiros para passar. velhas muito festeiras, um gene recessivo de personalidade expansiva naquela casa, tocando o acordeon (onde foi parar?) nos braços corpulentos, manchas de senilidade. "tristeza não tá com nada no balaio", diziam e seguiam pro pátio pra tomar uma fresca.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

F A M Í L I A

As fotos vazam os anos 70 para dentro dos 80
Poses em frente à varanda
Guaraná champagne, aniversário
Noivas empobrecidas mostram bolos confeitados
Velhinhas posam em frente a uma TV
Um som 3 em 1, um armário
Seguram um neto após o batizado
Mostram cavalos amarrados
Na porteira
Exibem carros utilitários com crianças ao volante
E o quadro da Catedral de Aparecida
É na pobreza dos meus
É na feiúra dos meus
Que me sinto consolado
Eis o que sou
Gostamos de posses
Parcas que sejam
Que nos digam que relevo ocupamos na topografia do mundo
Minha genealogia:
Uma cartilha
Uma carta enigmática do almanaque sadol
Uma declaração de bons antencedentes
Um histórico escolar
Uma participação de casamento
Um catálogo da Hermes
Um mostruário de passamanarias
No armarinho da mãe
Um filho distante sorri no porta retrato

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Coração Shirley Temple

Quando menino lia livros da Laura ingalls
E invejava a pobreza e a fome de “O longo inverno”
Vítima do coração melodramático shirley temple dos meus oito anos
Olhava-me no espelho sempre que chorava
Que aliás a penteadeira era meu canto favorito de choro
Hoje no inverno que se arrasta há tantos anos
Caí da pose
Meu reflexo perdeu o lugar entre o pó compacto max factor da avó
E a Santa Edwiges da mãe
Mas ainda choro defronte ao espelho de um banheiro
Às três da tarde num centro comercial

quarta-feira, 22 de julho de 2009

blue for the tears, black for the night's fears

cristalizo atrás das pálpebras uma imagem de infância que me enche de serenidade logo ao amanhecer: um domingo de sol, um rio piscoso, um sombreiro grande de ramagens, um livro, vinho frascatti, lambari frito na farinha, carroceria de D-20, um banho em box de azulejos azuis, alfazema garrão e sono às 5 da tarde ao som de uma canção de aznavour entreouvida do escritório do pai.

terça-feira, 21 de julho de 2009

i love to watch things on tv

"the answer is dreams. dreaming on and on. entering the world of dreams and never coming out. living in dreams for the rest of time."
— haruki murakami (sputnik sweetheart)

cavos os dias como um mineiro obstinado: de segunda a sexta, holofote na cabeça, quase deitado no túnel estreito dos dias em direção ao final de semana. tenho andado muito deprimido. quimicamente deprimido. nunca achei isso bonito de se dizer. perdi a vontade de escrever. perdi muitas vontades. perdi muita coisa. no fim, perdi demais e não sei se fiz boa troca.

estive em muitos lugares desde maio. revi minha família na bahia. voltei. fui promovido. avanço quase vagarosamente mas com algum sucesso no trabalho. tenho dias felizes. tenho dias quase positivamente muito bons.

mas a verdade é que arrasto uma espécie de aleijão emocional pela câmara penumbrosa do meu peito.

vou para casa dormir e sonhar. sonhar com a face escura da lua. com fenõmenos inexplicáveis como o sonho desta noite: da balaustrada do porto da barra via um céu noturno que era uma abóbada de água. uma vastidão oceânica que forças gravitacionais impediam de despencar sobre a terra. olhávamos maravilhados aquela esfera de água que nos envolvia, arquipélagos iluminados ocupando o espaço de estrelas.

acho que estou de volta.

satellite's gone
way up to mars

segunda-feira, 4 de maio de 2009

The ole hootie owl hootie-hoo's to the dove

vou abandonando os meses de dormência, de persistente e tediosa rotina caracterizada por itinerários sonolentos de ônibus entre a zona oeste e a zona sul e sinto próxima a adoção de um sóbrio tom neo-realista nos meus dias - afinal é chegado o inverno e pelo menos estarei desperto enquanto me locomovem pelas vias.
é preciso dispersar a borra de lucidez que assenta no fundo da minha cabeça, sacudi-la como o frasco com o milagroso sangue de san gennaro.
arre, quanta pretensão, marco aurélio.
agora é esperar que maio faça vir à tona alguma nova disposição.
ando muito necessitado de alegria que, aprendi não faz muito, é bem diversa da felicidade.
debbie reynolds abençoa nossa nova empreitada.

terça-feira, 28 de abril de 2009

quero, quero, quero, fiquei querendo

Eu quero viajar. Eu quero ir à praia. Comprar picolé capelinha. Eu quero ter 17 anos de novo. Eu sinto falta da Mesbla. Dos natais de 94 até 97. Eu sinto saudade de nós dois quando essa história só tinha começado. Eu não esqueço os antigos apartamentos em que morei. Eu não me conformo que o tempo passe. Cinco anos não são nada. Os últimos meses passaram tão depressa que eu nem notei. Sinto falta dos dois primeiros anos de faculdade. Os outros dois não significaram nada. Eu lembro com detalhes de certos dias de aula no colégio. Eu terminei o colégio há 16 anos. Meus sonhos ainda são os mesmos. Poucas vontades novas surgiram no elenco. Algumas ficam do meu lado, outras continuam me abandonando. Desde aqueles dias. Eu trabalhei na Pé do Atleta. Eu trabalhei em Buffet. Eu trabalhei em Livraria. Fui e voltei a ser assessor de imprensa. Já fui a Europa duas vezes. Nunca fui a Itaparica. Eu nunca mais fui a uma festa. Eu nunca mais dei uma festa. Amanhã é bem capaz de eu acordar, pegar um ônibus e entrar no Sartre. Assistir aula de Miguel. Depois almoçar com minha irmã. Qualquer dia pode ser 1993, mas só os dias mais tristes têm sido 2009.

domingo, 26 de abril de 2009

I love the bones of you

tantas bússolas submersas não apontam mais nenhum norte.
nenhum norte.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

i'm gonna wake and start to bake a sugar cake

só muita doçura para tirar o amargor da saudade. quero ser outra vez menino com manhas para tomar remédio, com o colo da minha mãe, a voz do meu pai, o cobertor no sofá da sala, o sono e a tevê ligada, a vida que nunca ia mudar.
estou doentinho de tristezas. no diminutivo. infantil e encabulado.

depois volto para apagar isso.

domingo, 12 de abril de 2009

quinta-feira, 2 de abril de 2009

emotional forecast

talvez as próximas doze horas sejam nubladas. trarão crueldades, lufadas de vento. quem pode confiar num mundo que repousa sobre placas tectônicas?

terça-feira, 31 de março de 2009

o tom de voz subtraía um número

Ou março se despede com as suas aflições ou nos renderemos.

Sem mais para o momento,

The lollipop guild.

quarta-feira, 25 de março de 2009

quinta-feira, 12 de março de 2009

inside the strangest dream of life unloved and cities burning

sem águas que fechem o verão as lembranças ganham bordas e molduras nítidas e certas palavras doem mais justamente porque foram esquecidas. quero um móbile de palavras, uma carta enigmática, uma graça alcançada, um feriado inesperado, uma interrupção pequena na ordem das coisas, uma surpresa boa, uma daquelas notícias que quando você recebe parece que sofre um acesso de labirintite. no tempo dos meus pais, as alegrias chegavam pelo correio.

segunda-feira, 2 de março de 2009

come back from san francisco

Acordo embebido em uma papa de lençóis, suor e sonhos confusos. A mão dele estendida sobre os meus ombros faz com que eu suba até a superfície do dia.

remember I'm awful in love with you.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Neither quite knowing which way they are going, they sing the shadows away

Rever por acidente um nanossegundo de uma imagem passada sua, um reflexo, um duplo que se põe à sua frente: assombrado, uma aparição. O susto reimprime uma descarga arrítmica esquecida, a veia no canto do pescoço lateja rápida: “mas era assim? foi verdade?”.
A chuva molhou as fotos, two roads diverged in a wood, não, não, nada disso: these two roads heve never actually met.
Fantasmagorias de anos pares. Foi belo, estranho e inexplicável. Que repouse no vinil sulcado de uma doce canção de um disco envelhecido.
Ao fim e ao cabo, funcionou: as sombras se desvaneceram, a seiva subiu ao caule.
Não importa. Importa. Não importa.
Eu sou um outro.